Produtores e grifes de moda apostam em conceitos sustentáveis

6 agosto, 2010


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Faz um tempo que a moda verde deixou de ser restrita a tecidos feitos a partir de garrafas PET, algodão orgânico ou fibra de bambu. Novas formas de pensar a fabricação de estampas e jeans são um bom exemplo. O tingimento natural, adotado pela Osklen em sua última coleção, lançada na São Paulo Fashion Week, também.

Na mesma direção, as roupas de banho da marca Movimento reaproveitaram pele de peixe, e as pulseiras da estilista Andrea Marques são feitas com madeira de demolição.

Saindo da área de materiais e técnicas utilizadas para conferir quem está trabalhando na máquina de costura, a ideia de pagar um preço justo a toda a cadeia envolvida na produção, poluir menos e cuidar do bem-estar dos trabalhadores se fixa em um mercado que só cresce. No Brasil, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) estima que o faturamento do setor no ano passado alcançou a marca de US$ 47 bilhões.

A conscientização de varejo e consumidores ajuda a firmar o algodão orgânico e o tecido de PET, mesmo sendo conceitos mais banalizados, como referências de menor impacto. Com isso, camisetas de algodão orgânico começam a chegar em grandes lojas de departamento no Brasil a preços mais acessíveis.

A criatividade e a inovação comuns ao brasileiro podem ser grandes aliadas para transformar o mercado da moda, conhecido por seu estímulo ao consumo desenfreado e pelo caráter descartável, em um adepto da sobrevida e da transformação.

Dar nova vida a algo que estava próximo do fim sem passar por processos químicos e físicos de reciclagem. É mais ou menos isso que o upcycle, conceito do momento na Europa, prega. Na moda do futuro, o artesanato, a customização e a individualidade no jeito de vestir podem ser grandes saídas.

Menos água nas estampas

Fazer estamparia exige muita água nos métodos tradicionais. Com a técnica da Air Dye, as cores são transferidas para o tecido por meio do calor, o que pode economizar entre sete e 75 galões de água em cada quilo de tecido. Outra tecnologia é a impressão digital, usada pela estilista Isabela Dreux na última edição do Fashion Rio, semana de moda do Rio de Janeiro. Com impressoras que aplicam as estampas direto nos tecidos, o consumo de água é reduzido em até 95%.

A força dos retalhos

Os pedaços de tecido que sobram nas máquinas de costura não vão mais para a lixeira. As roupas masculinas lançadas pelo estilista Alexandre Herchcovitch na São Paulo Fashion Week são de tecido reciclado feito de retalhos de várias indústrias.

Também nesse sentido, a marca masculina Spirito Santo aposta nas bolsas feitas com sobras de jeans. Assim, caminha ao lado da palavra de ordem dos ingleses focados no comércio justo, o upcycle. O nome estranho nada mais é que transformar, sem processo químico, algo que estava no fim da sua vida útil.

O novo jeans

A movimentação em busca da redução do consumo de água é um dos motivos que levou a marca Denovo a alterar sua produção. Um modelo feito a partir de retalhos de outros jeans e um outro que exige um número menor de lavagens industriais servem como exemplo. Já a Tristar promete um jeans que não precisa ser lavado depois do uso. Para limpar, é só colocá-lo no congelador por 12 horas dentro de um saco plástico fechado.

De Fortaleza para Londres

Uma parceria entre a Dragão Fashion Brasil, evento de moda de Fortaleza (CE), deve proporcionar intercâmbio de ideias, peças de roupa e ações entre Brasil e Inglaterra.

A ideia do coordenador internacional do evento, Mauro Slomp, é unificar a linguagem da ecomoda e reforçar os conceitos de upcycling por aqui. A conexão ocorrerá entre a Estethica, salão de moda ética da semana de Londres, e designers brasileiros, que devem ser recebidos na Inglaterra em fevereiro do ano que vem. Na edição da Dragão Fashion de abril de 2011, criadores da Estethica apresentarão suas ideias em Fortaleza, completando o ciclo de troca verde e ética. O projeto conta com o apoio da jornalista referência em moda, Suzy Menkes, do jornal Herald Tribune.

O preço justo

Conceito amplamente difundido na Europa, o comércio justo é aquele que considera importante todos os envolvidos no processo de fabricação, transporte e venda de uma peça de roupa. Ele vai contra a ideia de produzir onde a mão-de-obra é mais barata, sem considerar os impactos socioambientais. Embora o conceito não seja tão difundido aqui, o apoio de grandes marcas brasileiras a pequenas comunidades tem feito do artesanato um artigo de luxo.  Com treinamento específico, artesãs adicionam valor a seus produtos, levando-os até as passarelas. Na última São Paulo Fashion Week, maior semana de moda do país, Ronaldo Fraga, Movimento e Iódice aproximaram-se de comunidades, dando o pontapé inicial para o comércio justo.

Fonte: Donna DC


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