Cinema dita tendência

22 março, 2011


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Filmes influenciam a moda e inspiram os espectadores com novas maneiras de se vestir

Em fevereiro, a atriz Julia Roberts confirmou participação na nova versão do longa Branca de Neve, no qual interpretará a madrasta. Na adaptação do indiano Tarsem Singh, a personagem principal contará com a ajuda dos sete anões para vingar a morte do pai, causada justamente pela madrasta. Mais uma vez, o cinema promete impactar a moda e influenciar o público.
“Assim como nas obras de Tim Burton, Branca de Neve tem aspectos de figurino teatral e é muito influenciado pela fantasia”, afirma Cyntia Carla, professora de artes cênicas da Universidade de Brasília e figurinista. Ela também acredita que, se a obra dos irmãos Grimm for inspirada no desenho da Disney, a moda dos anos 50 poderá ser adaptada. “O corte será seco, mas com detalhes nas cores preto e roxo”, pontua.
Para evidenciar a feminilidade, o espartilho poderia estar presente no armário da madrasta, o que representaria uma mulher madura. Ainda, segundo a professora, o figurino tende a estar relacionado com o tempo histórico; portanto, pode-se usar um corte antigo, mas com textura e materiais atuais, talvez com elementos fetichistas, como o couro.

O figurino depende de algumas variáveis, como a estética do filme e a paleta de cores. “Está tudo diretamente ligado ao estilo do diretor”, diz. Depois de se ter uma estrutura visual do projeto do longa como um todo, há a análise dos personagens, assim como uma pesquisa de roteiro. Para Cyntia, podem haver personagens com estilos diferentes em uma mesma produção.
São várias as ressalvas para compor o guarda-roupa de um personagem. A especialista lembra que em longas-metragens há o trabalho do assistente, pois situações de chuva, sol e diferentes temperaturas podem determinar diferentes visuais. “Há também a adequação da roupa com a câmera, como o uso de listras que normalmente não funcionam e o uso cuidadoso do brilho”, detalha.
O hair stylist e maquiador Ricardo Maia imagina que olhos negros e boca carmim emoldurados por uma pele pálida compõem um look perfeito para Julia Roberts encarnar a personagem. Ele complementaria o visual com uma coroa enorme para os cabelos negros, devido à personalidade egocêntrica da madrasta.

Em cartaz
O longa Cisne negro, em cartaz no Brasil, extrapola o mundo dos bailarinos e leva elementos do balé ao gosto popular. O mercado de moda já percebe os primeiros sinais de mudança no comportamento dos consumidores.
A Adidas recentemente lançou a linha de balé e, em breve, os produtos serão vendidos no Brasil. “Iniciamos o desenvolvimento em parceria com o balé de Berlim e ficamos muito felizes com o lançamento desse filme, pois mostra que estamos caminhando de maneira correta”, conta a gerente de training feminino da marca, Carla Salvador.
A gerente comenta que o principal diferencial é a tecnologia techfit, que já é utilizada em outros esportes: “Percebemos que os benefícios também poderiam ser aplicados ao balé e resolvemos adaptar. Por meio de fitas de compressão, o atleta consegue uma postura melhor e um desempenho mais eficiente”.
No quesito beleza, Cisne negro também se tornou referência. O hair stylist ressalta o uso dos cabelos presos no filme. Os fios e a maquiagem dark fornecem uma influência clássica, que torna a maquiagem mais impactante.
As sapatilhas das bailarinas também são elementos do filme que funcionam como um estímulo para o mercado. A Repetto, marca influenciada pelo balé e preferida das bailarinas até na hora de passear, é vendida no Brasil pela Avec Nuance, sob o comando da empresária Silvia Chreem. Segundo ela, a tendência do fluxo de vendas da Repetto é aumentar assim que o outono chegar. “A demanda foi muito forte desde que chegou pela primeira vez às prateleiras”, observa Chreem.

Relembrando
Em 2010, o grande sucesso do cinema que influenciou a moda foi a versão de Tim Burton do filme Alice no País das Maravilhas. Acessórios e estampas de camisetas com os personagens, laços, meias listradas, roupas com detalhes de coelho e cartas de baralho inspiraram marcas e encheram os guarda-roupas de fãs de Alice. O diretor, com inspiração no psicodélico, mudou o visual não só da personagem principal, mas também do Chapeleiro Maluco e das rainhas Vermelha e Branca.
A adaptação de Burton também orientou novas maneiras de prender fios. “O cabelo da Rainha de Copas trouxe mais volume nos fios presos, com textura, tirando o ar ‘penteado demais’ dos tradicionais coques”, explica Ricardo Maia. Ainda, de acordo com ele, a personagem Alice trouxe uma volta marcante da maquiagem nude, numa versão romântica totalmente ingênua.
Sobre outro sucesso recente, a saga Crepúsculo, Ricardo percebeu que o penteado do vampiro Edward, interpretado por Robert Pattinson, foi muito copiado. “Mais longo e modelado com laca e cera para homens. Na maquiagem, os olhos neon espelham o olhar magnético dos vampiros. Também existe a proposta com pele pálida e batom escuro”, esclarece.
Como a saga atraiu a atenção de adolescentes de vários países, a indústria têxtil também buscou maneiras de lucrar com tamanha repercussão. Além de acompanhar os ídolos por meio da mídia, os fãs puderam adquirir produtos inspirados neles. A rede de lojas americana Nordstrom, por exemplo, criou uma linha com roupas e acessórios voltados a esses filmes.

De espectador a consumidor
A influência dos looks usados por personagens na forma como os espectadores passam a se vestir é notável. A professora Karina Barbosa, da Universidade Católica de Brasília, afirma que a cópia acontece devido aos meios de comunicação. “A pessoa pega a informação disponível e isso serve como modelo”, diz.
Ela ressalta que esse tipo de influência também acontece muito nas telenovelas brasileiras. “Na Central de Atendimento ao Telespectador, da Rede Globo, por exemplo, as pessoas procuram saber a roupa usada pelos personagens das novelas e, de uns dois anos para cá, os homens também começaram a ligar. Muitos queriam saber mais sobre as peças e acessórios usados por José Mayer”, completa. Está havendo uma desconstrução da ideia de que apenas a mulher procura os elementos utilizados pelos personagens.
A analista de comportamento da clínica Holopsi, Miriam de Castro, explica que o processo de cópia vai depender do valor do reforço do comportamento. “Se a pessoa em evidência é alguém muito importante para mim, é meu objeto de desejo, minha tendência é copiá-la, pois a aprendizagem é feita por modelos”, esclarece.
Miriam analisa que todos são influenciados, o que independe da idade, pois como o comportamento foi aprendido, a tendência é reproduzi-lo. Ela frisa que se deve ter cuidado, quando o comportamento passa a ser inadequado. “Isto ocorre quando a pessoa não tem bom senso ou se deixa de fazer algo para agradar o outro ou, ainda, se pode apenas fazer parte daquele grupo se usar certo tipo de roupa”, conclui.

Fonte: Comunidade Vip


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